Treinamento de Força e Economia de Movimento

Por TT TEAM

20/01/2022

  • FORÇA
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Diversos atletas ainda se recusam a realizar o treinamento resistido, seja porque não gostam deste tipo de treino, não acreditam nos resultados relacionados a melhora global e da performance ou ainda não tem tempo e priorizam sempre a modalidade principal, ou seja, a corrida, o ciclismo a natação entre outras.

No entanto, já está bem documentado na literatura científica, todos os benefícios do treinamento resistido para atletas de endurance.

Veja, dentre os aspectos que podem interferir no desempenho em provas de endurance, os mais significativos são o consumo máximo de oxigênio (VO2 máx), o limiar anaeróbio (lan) e a economia de movimento (EM).

Apesar de não impactar na mesma magnitude em todos os aspectos acima, o treinamento de força (TF), com correto ajuste das variáveis deste treinamento (como volume, intensidade, tipo predominante de manifestação de força, séries, descanso entre séries, velocidade de execução), apresenta uma boa resposta na economia de movimento; podendo, desta forma, contribuir para a melhora de performance global do atleta.

Para quem não está familiarizado com o conceito, a economia de movimento é o custo energético para uma determinada intensidade. O mesmo custo energético para uma intensidade maior, ou um custo menor para a mesma intensidade denotaria uma economia de movimento maior. Essencialmente, quem consome menos energia para a mesma intensidade, é o atleta mais econômico. No esporte, o custo energético é relacionado com o consumo de oxigênio (VO2 máx), que como citado acima, é um dos grandes preditores de resultado.

Sendo assim, ao melhorar nossa economia de movimento, nos tornamos mais eficientes – importante esclarecer que se tornar mais eficiente, não significa aumentar a intensidade ou velocidade absoluta, estamos falando apenas em termos de gasto energético durante a execução da atividade.

Em se tratando de economia de movimento em corredores, diversos estudos vêm sendo realizados para verificar os efeitos do treinamento de força na modalidade. Apesar de metodologias diferentes terem sido usadas nos estudos (força máxima, pliometria, resistência muscular localizada, potência e força explosiva), todas apresentaram impacto positivo na EM dos grupos em questão.

Sobre este tema, Luckin-Baldwin et al (2021) analisou triatletas durante 26 semanas de treinamento de endurance, concomitante com treinamento de força. Como esperado, ao final do período de treinamento, foram observados ganhos na economia de movimento do ciclismo e também da corrida sem que houvesse ganho significativo na massa muscular.

Um outro estudo realizado por Storen et al. (2008), com corredores, analisou o treinamento de força máxima durante 8 semanas, 3 vezes por semana e encontrou um aumento de 5% na economia de movimento a 70% do vo2máx e um aumento de 21,3% no tempo de exaustão para a máxima velocidade aeróbica de corrida.

Outros estudos com força submáxima também demonstraram efeitos positivos na economia de movimento, ganho que pode estar relacionado com as mudanças na força dos membros e nos padrões de recrutamento das unidades motoras.

No que diz respeito a treinamento de potência ou força explosiva (como levantamento olímpico, kettlebell, pliometria entre outros), estudos também já demonstraram uma influência positiva na economia de movimento pela melhora das características do ciclo alongamento-encurtamento muscular. A força explosiva contribui na economia de movimento quando relacionada com velocidades submáximas e uma contribuição ainda maior quando relacionada com a velocidade de prova do atleta.

Uma das formas mais utilizadas por triatletas e corredores mais experientes é treinar a força explosiva por meio da pliometria (trabalho com saltos), especialmente no período competitivo. Um estudo feito por Turner e colaboradores no ano de 2003 analisou o efeito de 6 semanas de exercícios pliométricos em atletas de endurance. Os resultados encontrados no aumento da economia de movimento foram de 2-3%. Este valor parece pouco, no entanto, qualquer mudança na economia de movimento é importante em se tratando de provas de longa duração (Pereira, 2010) e com atletas sempre brigando por ganhos marginais.

Fica claro, portanto, que este tipo de treino, quando realizado com cautela, por atletas experientes e no momento correto do planejamento, tem impactos positivos na economia de movimento em atletas de endurance, e o mecanismo responsável por esta melhora é o ciclo alongamento-encurtamento muscular (capacidade do músculo em armazenar energia e transformar em energia elástica) e por gerar alterações na razão de desenvolvimento de força (relação entre o tempo e a capacidade de gerar força).

Prof. Marcelo Zanella – Coach TT

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
● FERNÁNDEZ C., CONCEJERO J., GRIVAS G. Effects of Strength Training on Running Economy in Highly Trained Runners: A Systematic Review with Meta-Analysis of Controlled Trials. Jornal of Strength and Conditioning Research. 2016: p. 1-8.
● LOPES C., SINDORF M., MOTA G. e CESAR M. Treinamento de Força para Atletas de Elite em Provas de Endurance. Revista Ciências em Saúde. 2012; v.2
● PEREIRA R e LIMA W. Influência do treinamento de força na economia de corrida em corredores de endurance. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício. 2010; v.4: p. 116-135.
● LUCKIN-BALDWIN KM, BADENHORST CE, CRIPPS AJ, et al. Strength Training Improves Exercise Economy in Triathletes During a Simulated Triathlon. Int J Sports Physiol Perform. 2021;16(5):663-673. 2021.